quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

da síndrome das "doces palavras"

Houve um tempo em que as palavras eram minhas melhores amigas. Seja as que bailavam nos livros que lia, seja as que desenhava nas folhas de papéis em que escrevia toscos versos. Nessa época, as palavras eram meu refúgio, meu alento, as únicas que entendiam as chagas do meu coração.

Os anos foram passando, e essas tão queridas amigas passaram também. No frenesi do dia-a-dia, troquei as palavras doces dos livros e dos versos, pela dura e árdua burocracia da Universidade. Era conhecida por “ter uma mentalidade mais madura do que as pessoas da minha idade”, e o tempo de separação das doces palavras fez com que isso mais e mais se tornasse realidade.

Se o dom de gracejar nunca foi uma grande virtude em mim, quando abandonei minhas grandes amigas – as doces palavras – tornei-me séria a ponto de envelhecer, apesar da pouca idade. Os dias tornaram-se tão curtos para honrar todos os afazeres, que chegar perto de palavras “não-burocráticas” tornou-se impossível. Páginas e páginas de textos “científicos”, num palavreado monótono e boçal, passaram a preencher meus dias; e o brilho que outrora as doces palavras dos textos literários pintaram em meus olhos simplesmente desapareceu.

A facilidade para descrever cenas, sentimentos, desejos, anseios, opiniões, tudo isso sumiu e minha escrita enquadrou-se no velho modelo jurídico. Vai longe o tempo em que escrevia redações dignas de serem encaminhadas para concursos de literatura – aliás, vai longe o tempo em que escrevia redações. Vai longe o tempo em que minha maior preocupação era ir à biblioteca, porque acabara de ler os três livros que emprestara. Vai longe o tempo em que tinha disponibilidade para alimentar assim minh’alma.

Se de um lado ingressar numa Universidade é símbolo de esforço, dedicação, sucesso; de outro, é deixar de ser senhor do seu próprio tempo, senhor dos seus próprios passos, senhor das suas próprias vontades. Se de um lado é na Universidade que desenvolvemos nosso senso crítico, que amadurecemos e nos tornamos adultos; de outro, é nesse espaço que nossa alma enegrece e a criança que dava encanto ao nosso ser morre. Se de um lado é através da Universidade que temos possibilidade de conquistar nosso sustento; de outro, é através da Universidade que nos tornamos escravos de algo que nem mesmo nós conseguimos explicar.

Nascimento - Escola - Universidade - Cursos - Congressos - Viagens - Carreira - Casamento - Morte. Onde estão as doces palavras nesse ciclo?! Às vezes me pergunto quanto tempo mais suportarei essa escravidão. De que vale um diploma sem as doces palavras?
Que as doces palavras não morram em você, como um dia morreram em mim.


Calliope Moça-Flor




























quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

da síndrome de "eros e psique"

Resistam, sigam o exemplo do príncipe e persistam. Leiam até o final e resgatem (se for este o caso...)



Eros e Psique


fernando pessoa.



Conta a lenda que dormia

Uma Princesa encantada

A quem só despertaria

Um Infante, que viria

De além do muro da estrada.


Ele tinha que, tentado,

Vencer o mal e o bem,

Antes que, já libertado,

Deixasse o caminho errado

Por o que à Princesa vem.


A Princesa Adormecida,

Se espera, dormindo espera,

Sonha em morte a sua vida,

E orna-lhe a fronte esquecida,

Verde, uma grinalda de hera.



Longe o Infante, esforçado,

Sem saber que intuito tem,

Rompe o caminho fadado,

Ele dela é ignorado,


Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino

Ela dormindo encantada,

Ele buscando-a sem tino

Pelo processo divino

Que faz existir a estrada.



E, se bem que seja obscuro

Tudo pela estrada fora,

E falso, ele vem seguro,

E vencendo estrada e muro,

Chega onde em sono ela mora,


E, inda tonto do que houvera,

À cabeça, em maresia,

Ergue a mão, e encontra hera,

E vê que ele mesmo era

A Princesa que dormia.





Sempre pensei nesse poema como sendo o simples: "O que você busca sempre esteve ao seu alcançe". Mas aprendi que também pode ser: "O que resgata, precisa ser resgatado". Pelo dia 26 de julho de 2006, eu prefiro ser resgatado!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

da síndrome da "casa"

17° celsius. E diante de mim aquele prédio meio bege. Me perguntei o que eu estava fazendo ali. No passado nunca tive dúvidas do que eu queria fazer da minha vida. Queria ser militar. Era meu sonho, tinha um certo fascínio pela ordem, e as histórias de confrontos me encantavam. Me matriculei num curso preparatório pra colégios militares. Sabe aqueles lugares onde você estuda e faz exercícios como se sua vida dependesse disso? Pois bem, então eu cresci.



Eu comecei a ver que as guerras não são tão engraçadas como na minha mente infantil. Que o que se ouvia nos campos de batalha não eram minha onomatopéias de tiros, e sim gritos de agonia de pessoas que morriam sem motivos, sem razões. Vi que a ordem que me fascinava era a dominação e o sentimento sedutor era o de não pensar, mais agir. Mudei. Mas aquele prédio me chamou atenção. Então hoje eu resolvi entrar.



O museu que visitei (acabei de voltar, apenas tirei os sapatos e vim escrever), chama-se "casa do expedicionário". Tinha uma bela coleção. O mais interessante é que não se trata de cópias ou réplicas, e sim de artigos reais doados por amigos e pracinhas daquele período.




Nessa "casa", havia uma seção que era em homenagem a um certo sargento chamado max wolff filho. Pelo que pude ler sobre ele, tratava-se de um héroi. Condecorado por bravura em várias ocasiões, inclusive na tomada do monte castelo, o dito sargento morreu numa patrulha sob fogo alemão e, de acordo com relatos de sobreviventes, o pequeno grupo resistiu ao fogo inimigo muito pela coragem do dito sargento. Ao que parece o nome do sargento é usado pelo batalhão de infantaria blindada daqui de curitiba.



A baixo da série de imagens em preto e branco, havia uma foto de uma senhora. Era uma foto colorida, e a senhora sorria com certa formalidade. Abaixo a legenda dizia quer aquela era a única filha do sargento, e que agora residia em curitiba. Expostos naquela sala estavam, além da bandeira que envolveu o corpo do sargento, uma série de outros pertences pessoais do sargento. Eu me perguntei se aquelas lembranças não fariam falta a ela. Mas certamente não. Afinal, ela não era filha do sargento max wolff filho. O nome de seu pai era max. Ela com certeza sentiu falta do sargento. Será que ele quis lutar naquela guerra? Escolheu? Alguém escolheu? Generais, soldados, vítimas, alguém escolheu aquela guerra?



Enquanto eu pensava um grupo de crianças entrou na sala. Aparentemente primos, três meninos, disputavam entre si uma revista e a atenção de três senhores. Impressionavam-se com as medalhas coloridas, os uniformes expostos e brigavam por uma revista. A guerra continua a ser uma brincadeira de crianças. Mas creio que a filha do héroi de curitiba não gostou muito da brincadeira.




Foi triste o nome do museu ser "casa so expedicionário" de alguma forma alguns ali não tiveram casa a retornar. Não sei se pelo frio, ou o silêncio depois das crianças orem embora, até mesmo os vultos de uniformes de homens que lutaram (estam vivos ainda os que usavam essas roupas? Morreram no conflito? Depois?). A cena da despedida foi melancólica.
A casa estava vazia, havia apenas fantasmas em vidros.





segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

da síndrome do "céu de baunilha"

monet, claude (1840-1926).





Nesse momento em que escrevo, faço isso diante de um outro computador. É ao mesmo tempo alienígena e confortável. Me sinto longe e perto de casa. Tenho certeza que só me sinto assim, porque me sinto muito bem aqui. Cada momento é como um sonho vivo. Valeu a pena cada segundo de espera e cada momento agoniante da viagem. E foram muitos!






Até ontem a tarde pra mim ainda estávamos no dia 18. Foi quando minhas noites de sono pararam. Elas nem mais eram intermitentes, ou mesmo conturbadas. Elas apenas pararam. Eu olhava pra mala e pras roupas jogadas sobre a cama com um misto de agonia e tranqulidade. Afinal o grande dia havia chegado, mas eu estava tão ansioso! Fazia tanto tempo que tinha viajado, a ansiedade me matava aos poucos! Era torturante!






Em belém o avião atrasou por uma hora. Eu deveria chegar em brasília as 4h da manhã (horário de belém), cheguei lá as 7h (horário local). Meu outro vôo, que não era conexão e por isso não ia esperar eu fazer o check in novamente, ia sair em apenas uma hora e vinte minutos. A fila estava grande, mas graças a Deus consegui.






De lá cheguei no rio (que deve ser uam cidade muito linda, mas que não conheço além dos limites da sala de embarque). Lá travei a mais cruel de todas as lutas! A ansiêdade e o tédio me fizeram de refém! Tentei de tudo (menos yoga, mas isso já esta sendo analisado pras próximas ocasiões), e nada conseguia me distrair. Como último recurso tentei o céu. Foi quando a calma e a tranqüilidade me encheram. Ali diante de mim, estava uma tela de monet! Aquele céu de baunilha tirado dos sonhos e emoldurado nos céus do rio. Minha ansiedade passou, meu tédio foi varrido. Como eu fiquei grato a Deus por aquele céu! Ele estava sobre todos nós (passageiros, pilotos, moradores, puxa estava sobre a cidade toda!), mas pra mim, talvez por egoísmo ou por tolice, aquele céu era pra mim!






Dizer que "devemos saber pra onde olhar nas adversidades" é auto-ajuda. Todavia eu nunca vou esquecer daquele céu de baunilha em cima de nossas cabeças. É bom saber que existem prédios, prisões, aviões, aeroportos mas nunca vão tirar o céu de baunilha, nunca de minha memória! Aprendi a ver, foi muito bom enxergar. Nunca vou esquecer daquele céu e do meu céu particular com um sorriso largo e olhos que abraçam. Esse, é só meu.











sábado, 19 de janeiro de 2008

da síndrome da "viagem dos sonhos"


  1. Muita fé.
  2. Muita saudade.
  3. 5 kg de farinha de tapioca.
  4. 2 kg de goma.
  5. 1,5 kg de castanha-do-pará.
  6. Mais saudade.
  7. E mais fé.
Pesquisas recentes comprovam que em casos críticos desta síndrome podem ocorrer atrasos em postagens nos blogs e até mesmo incomunicabilidade. O tratamento não é conhecido e muito menos bem vindo.

da síndrome dos "viajantes das encruzilhadas" ou da síndrome de "joana d'arc"

Recentemente comecei a me perguntar bastante sobre o que escrevia aqui. Olhei desde as primeiras postagens e repensei meu objetivo. Comecei esse blog há pouco tempo, então ainda estamos no período de sintonização. Cada vez que releio o que escrevi, chego a conclusão que tem certas postagens em que coloquei muitos "pedaços" de mim. Mas esses pedaços não estão visíveis. Estão trancados em informações, bobagens, observações, conjecturas, imagens, dentre muitas coisas.

Já sentiram isso? Quando escrevem algo e parece que tudo faz o perfeito sentido pra você mas pra outras pessoas você escreveu em outra língua? Pra completar li por esses blogs da vida um muito bom com um artigo sobre erros de novatos, e quando vi os meus lá fiquei ainda mais encucado. A grande questão não era por que eu estava comentendo erros, a grande questão é por quê eu estou bem feliz do jeito que escrevo.

Vocês meus "leitores" (a meia dúzia de amigos que vem aqui) me conhecem. Portanto algumas partes que coloco aqui, vocês conseguem destrancar. Outras quem vai destrancar sou eu a medida que o tempo passa (como foi com o fato de eu escrever os nomes prórpios com letras minúsculas) e ainda outras talvez nem eu mesmo consiga destrancar. São coisas que eu precisava falar e escrever, dar vida. Por outro lado, o que li naquele blog, me chamou a atenção.

Foi por isso que resolvi escrever sobre essa síndrome.

Antigamente, na europa, em alguns feudos o roubo era crime capital. A morte era por enforcamento. Os condenados eram colocados nas encruzilhadas. Assim, todos poderiam vê-los. Diz a lenda que a noite, quando a lua brilha no ponto mais alto, naquelas antigas encruzilhadas que são o território das três bruxas que são uma só: hecatae, aqueles corpos pendem de suas forcas, clamando aos viajantes para lhes concederem um enterro cristão. Nem sempre é bom dar atenção aos estranhos não é mesmo?

Joana d'arc, era apenas uma camponesa. Mas por várias ocasiões quando posta a prova mostrou que possuia algo a mais em si. Ela ouvia vozes, de santos guerreiros e santas apócrifas, como ele mesma seria por muito tempo. Ela fez verdadeiros milagres enquanto viva. Ergueu a moral do exército da frança, coroou o delfim e, dizem as lendas, que guiada por vozes, seguiu até uma antiga capela nos arredores de chinon e sob o altar encontrou a espada que havia sido de charles martel, chamado de o pai da frança. As vezes é legal ouvir vozes estranhas.

Então meus poucos e preciosos (qualquer semelhança a gollum NÃO é mera coincidência) leitores. Opinem, eu construi esse espaço, mas não fiz isso sozinho. Nem sempre vou escutá-los, por quê nem sempre vocês vão estar certos e também por quê eu cometo muitos erros. Mas tentem, destranquem aquiles pedaços que vocês conseguem de mim. Cada amigo de certo vai ter pedaços diferentes, mas é assim mesmo, vivemos em cada amigo e querido, em pedaços de nós Afinal todos sofremos dessa síndrome, as vezes somos muito "viajantes pelas encruzilhadas" outras somos muito "joana d'arc".

A nós todos o meio termo (quem sabe!)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

da síndrome de "ser estranho"




... uma missão!



* agradecimentos ao "depósito do calvin" que mantêm um belo acervo. Sigam o banner lá embaixo, vale a pena.

da síndrome do "mentalismo"




Lei do mentalismo.

"O todo é mente; o universo é mental"


Há alguns dias atrás um amigo meu teve uma conversa muito interessante sobre o nada. Foi bastante divertido e bastante instrutivo também. E fiquei pensando nisso. Me lembrei de uma frase que certa vez destruição repetiu "seriam a luz e a matéria conversíveis entre si?", a frase era de neuton. E sim, comprovou-se depois que a luz e a matéria são sim conversíveis, e são seus princípios a base de bombas atômicas. Então esbarro com a primeira lei hermética. E na minha cabeça de alguma forma tudo isso tem relação.

As leis herméticas são leis basilares de uma filosofia chamada de hermetismo. Elas são atribuídas a hermes trimegistus. Foram expostas no livro chamado "caibalion" (no hebraico significa tradição enviada por um ser superior). Essas leis de certa forma regem toda a existência.

Há um texto chamado de "tábua esmeralda", que é considerado como o texto que deu origem (ou o correto seria dizer que elencou padrões?) da alquimia mulçumana e ocidental. Neste texto, uma de suas passgens assim assinala: "Por esta razão fui chamado de hermes trismegistos, pois possuo as três partes da filosofia universal.".

Descobri que existem basicamente dois tipos de alquimistas, aqueles que escrevem expressando seus princípios, e aqueles que escrevem os escondendo. Qual seria o tipo do bom e velho hermes? Por quê hermes decidiu que "o todo é mente; e que o universo é mental" seria a forma correta de se expressar quanto a primeira lei?

Existem muitas explicações. Numa delas o todo é a existência é tudo o que há, e o universo é o que é feito dessa existência. O todo é como energia e matéria, o universo é a forma dessa matéria.

Pra outros seria uma receita, um preceito pra que se supere a existência. A força estaria na mente (todavia isso soa e é autoajuda e não alquimia).

Há aqueles que veêm que o todo é o fruto do pensamento de um ser (alguns acreditam que esse ser é Deus), e que o universo como expressão desse todo e como algo que nos circunda é mentalização da vontade deste ser. E que portanto o todo, de forma bruta é acessível, mas pra isso é preciso ligar-se a este ser (não é por sorte que o termo religião vem do latin religare; re-ligar).

E o qual é a relação com o tudo e o nada e a frase de destruição (ou mesmo sandman, sua família e seus símbolos de existência) que lembrei? Existe como ser mais claro? Acho que não, afinal síndromes são psicossomáticas, são causas desconexas, funcionam somente na mente do adoecido. E sim, síndromes funcionam sempre.



quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

da síndrome de "muito tempo"



107 horas. Eu poderia ir a curitiba de ônibus e ainda ter mais um dia pela frente. Mas valeu muito a pena. O poderoso império de archadia se expande por ivalice numa velocidade grandiosa, uma das ultimas paredes que poderia barrar esse avanço: dalmasca, cai! A familia real esta morta e p único representante é o governo preocupado de marquis ondore. E nossa história começa com um par de orfãos, e termina a borod do bahamut por sobre os céus da mesma cidade onde tudo havia começado!

Falar que o jogo final fantasy XII é excepcional é noticia velha. E demorar 107 horas pra terminar o jogo não é excepcional, nem demorado e nem rápido (demais). Mas o intervalo entre essas horas, o tempo que levei pra conseguir continuar foi realmente um grande desafio. Diria que um desafio de meses! Mas acabou. E adorei esse desafio, o final é muito emocionte o nível de difiuldade dos enigmas e monstros faz valar a pena você se esforçar e adquiriar a tão sonhada experiência. Dá vontade de começar de novo agora pra pegar os espers restantes (peguei oito, creio que são treze), terminar as caças (lá pelas tantas decidi terminar o jogo e não fiz mas as caças).


E de todas as coisas fica a lição, o seu passado pode dizer muita coisa sobre você, mas não determinar quem você é! Antigo mestre juiz, ou antigo juiz isso não importa, princesa e anjo da vingança de seu povo, ladrão, orfão, vítima da guerra, defensor e protetor... isso são apenas rótulos, nós temos liberdade pra decidir usá-los. Todos tem um preço, pode ser confortável sentar sobre seu comportamento autodestrutivo, não é fácil quebrar a corrente de rótulos e com liberdade viver a própria vida (os que fazem assim são chamados de vilões e heróis, tudo depende do lado vencedor)

Aqui no fim tenho aquele leve sentimento que venat estava certo, e que ambos os lados lutavam pelo mesmo objetivo, mas cada um tão firme e tão centrado em suas próprias crenças que guerrearam... incrível, o jogo conseguiu representar muito bem o comportamento humano.

E por quê muito tempo? Eu poderia ter terminado o jogo antes, e quem sabe ter aproveitado melhor o desafio dele. Em ivalice poderiam ter resolvido seus conflitos bem antes e ter alcançado a paz. Mas assim como eles, na ambição de fazer sempre melhor, levamos muito tempo. No meu caso valeu a pena. Não é maravilhoso/lamentável como rpgs são atuais?

something more valuable...


terça-feira, 15 de janeiro de 2008

da síndrome de "paracelso"


Há muito tempo atrás, eu perguntei a uma professora o que era a química. Àquele tempo, ainda não havia tido contato curricular acadêmico com a disciplina, e por algum motivo fiquei curioso. Seria um resposta simples e comum, ela me disse "é o estudo da matéria, da composição das coisas e da transformação delas". Achei aquele conceito esplêndido, e perguntei a ela se eu poderia transformar qualquer coisa, e ele me disse "não. Isso que você está falando é alquimia".

Posteriormente descobri que a alquimia é uma ciência dita incerta. Seria um tipo de tradição que combina várias outros campos de estudo como a química, física, astrologia, arte, metalurgia, misticismo e religião. A alquimia estaria um pouco distante do caractere de ciência como nós conhecemos, e muito mais próximo ao de uma filosofia. Todavia não é esse o assunto. A alquimia é uma ciência de loucos.

Tem um certo louco em especial chamado felipe, ou se preferirem phillipus aureolus theophrastus bombastus VON HOHENHEIM, mais conhecido como paracelso. Suiço, com educação austríaca formado em medicina pela universidade de viena. Teve contato com as mais antigas tradições egito, terra santa, tartária, arábia, constantinopla, dentre outras. Conhecido como grande médico na europa (o que talvez lhe rendeu a alcunha. "Paracelso" significa "superior a celso*"), fez estudos sobre farmacologia, química e anatomia representando um grande avanço na ciência médica. Pessoa de orgulho forte e intransigente vagou pela europa por muito tempo garças a seu temperamento.

Morreu louco com 47 anos, em setembro de 1541. E até então esse é um resumo de sua vida. Mas paracelso, quando na sua morte (nunca esclarecida) afirmou ter adquirido o conhecimento da pedra filosofal. A loucura certamente sempre foi uma válvula de escape para muitas pessoas, todavia crer que um dos mais renomados médicos da europa, aos 47 anos morreu louco afirmando ter conquistado o alvo supremo de tantos, é tão fantasioso quanto crer que isso de fato não aconteceu.

O que deixou paracelso louco? Ele viajou pela terra santa, existem lendas que afirmam que o santo graal na realidade é uma pedra deixada na terra por seres celestiais e que esta pedra possui grandes poderes. Essas lendas se espalharam pela terra santa.

O que deixou paracelso louco? Se ele de fato havia obtido o conhecimento da pedra filosofal (que lhe permitia fabricar o elixir da vida eterna) por que morreu com feridas infecciosas (uma das versões de sua morte diz que ele morreu por infecção causada por ferimentos numa queda em um bar!)?

O que deixou paracelso louco? O mito da transformação de metais em ouro é uma metáfora pra transformação da alma, certos alquimistas inclusive diziam que a pedra filosofal era um estado de espirito. E certas correntes afirmavam que a pedra simbolizava Deus (profeticamente já referido assim na Bíblia), portanto o elixir da vida seria a vida eterna dos cristãos.

Nunca saberemos o que deixou paracelso louco, talvez nada e ele fosse mais lúcido que nós. Talvez a falta de sucesso e o fim triste que havia diante dele. Mas ninguém poder mudar uma coisa, quer louco quer lúcido, ele era apenas um homem que morreu tendo certeza de que havia conseguido alcançar o objetivo de sua vida. Talvez essa certeza em si (o famigerado "isso! Consegui!") seja a tão falada pedra filosofal.

Como último pedido ele requisitou que em seu velório fossem lidos os salmos 1, 7 e 30. O verso três do salmo 30 diz "SENHOR, da cova fizeste subir a minha alma; preservaste-me a vida para que não descesse à sepultura"


*Médico romano de grande renome na história do antigo império

domingo, 13 de janeiro de 2008

da síndrome do "medo"


Quarto escuro. Tudo silencioso. Sozinha no quarto uma pessoa sentada na cama. Acaba de acordar. Tateando pelo escuro e esperando seus olhos se acostumarem com o ambiente caminha em direção do que seja o banheiro talvez. A porta se abre, a luz é acesa, e através daquele retângulo a luminosidade branca alcança uma parcela do quarto. Um olhar furtivo pra trás, um leve tremor. A luz por vezes faz as trevas se tornarem mais assutadoras. Um passo adiante e esses pensamentos não mais preenchem a mente. Diante do espelho o reflexo cansado e mal dormido de um rosto feminino, um sorriso cheio de significados depois ela se abaixa, lava o rosto e quando se encara no espelho, seu reflexo não está mais só. Uma desconhecida atrás dela sorri. A visão se foca no rosto contorcido de terror da jovem ao encarar a estranha! Ela se volta pra trás e BAM!

Esse é o tipo de terror do filme 1408 (mikael hafström), baseado no conto homônima de stephen king. Tem um grande elenco, os mais conhecidos são samuel l jackson e john cusack. É de um terror simples, lógico, quase claro. A história é sobre um escritor descrente e sofrido chamado mike enslin (cusack), que passa uma noite no quarto 1408 do hotel dolphin, onde vários acontecimentos suspeitos e até mesmo bizarros foram presenciados. Como o próprio personagem de cusack diz "quartos de hotel em si são assustadores. Quantas pessoas dormiram aqui, morreram aqui, enlouqueceram aqui".

Gosto de um bom suspense e muito de um bom horror. Mas na minha opnião um bom horror é feito com luz. O que descrevi é verdade. A luz faz as trevas serem mais assutadoras. Já assiti "o iluminado", tanto na versão de stephen king, quanto na mais antiga e melhor de stanley kubric. O grande diferencial são as dúvidas, são os pontos de luz que kubrick lança sobre a história que ao mesmo tempo faz você perguntar se aquilo é real ou não.

A fixação do medo. Sim, temos uma fixação no medo que não se contrói com base não naquilo que não vimos, mas naquilo que não se permite ver. Tomemos um exemplo semelhante pra que vocês entendam meu ponto de vista sobre o medo. Silent hill 4 - the room. Um individuo preso em seu quarto descobre que a única forma de tentar escapar é através de um buraco misterioso que o leva pra um mundo bizarro e surreal, onde tudo o que acontece parece estar conectado. O medo não advém das criaturas estranhas, pelo menos não o medo que satisfaz, esse medo vem da impossibilidade. Vem daquilo que você não é permitido ver: os motivos daquilo tudo.

Esse jogo de luz e sombra poderia ser mais explorado no filme, e poderia ser mais discreto. Afinal o medo é só a vertigem, o impossível nos chamando e sussurrando no nosso ouvido as palavras de hamlet para horácio "mais coisas que supões...", o medo é o tremor sobre o que a luz e a razão não nos deixa ver. Esse é o medo que buscamos sempre. Esse é o medo que alimenta (porque todos nós temos muita fome).

A cena de medo mais emblemática. Ele não vem da lápide que vemos, ou do corpo sob ela. Ele vem do que há depois da lápide e do corpo, e isso não nos é permitido ver.

sábado, 12 de janeiro de 2008

da síndrome da "humanidade" - fullmetal alchemist

O que nos faz humanos? Essa é a grande pergunta que me ficou na mente na noite de ontem. Foi depois de ler o 75º capítulo de fullmetal alchemist (hiromu arakawa). Ainda não é o final. O mangá tem uma produção já antiga, desde de fevereiro de 2002, e um ritmo de produção bem diferente. O anime baseado no mangá seguiu quase a mesma história até certo ponto (até o quinto laboratório) e de lá em diante tomou rumos muito diferentes.

O anime é forte e muito bom. Mas é... não sei como dizer, mas fez muita diferença, o mangá é bem melhor. Um amigo me disse que a principal desvantagem de um anime é que lá a informação vem completa. Em um mangá, você tem que completá-la que concluí-la aos poucos a partir de quadros, você cria vozes, jeitos de falar, entonação, tudo! É em essência um exercício de produção da obra, um exercício de sonho.

"Sou um monstro"

Pra aqueles que chegaram até o capítulo 75, essa frase pode significar alguma coisa. Mas afinal o que nos faz humanos, essa era a pergunta. Os homúnculos eram criaturas impressionantes, ao menos do ponto de vista físico. Aparentemente não precisam comer (a despeito de que glutony sempre se queixa de fome, mas creio que ele não morreria com essa fome), ou mesmo qualquer outra necessidade básica, como dormir ou mesmo respirar* (vale lembrar que sloth não deve ter tido ar durante o trabalho dele). São muito ágeis e rápidos, e apresentam um bom conjunto de poderes especiais. Então podemos dizer que eles não são humanos?



"Você está pronto a se tornar um cão do exército?"

Amestris é a nação onde boa parte da tramam se desenrola, as conexões com a alemanha nazista são bastante fortes. Estado militarizado, xenofobia, nação belicosa. Além de referências mais diretas, como o fato de o lider supremo de amestris se chamar "fuher". A guerra contra ishibal (um povo com sua terra específica que foram anexados por amestris), também pode ser vista como uma referência ao holocausto. Aqueles que chegaram até o capítulo 75 sabem um pouco mais sobre os segredos de amestris e os experimentos que eram feitos em ishivalites durante o confronto. E eles? são humanos?




"Um é tudo. E tudo é um"

A alquimia em nosso mundo é uma ciência mitológica mais próxima da magia em si do que da própria ciência. Em fullmetal ela é tão certa como a matemática, possui suas leis e seus próprios tabus. E os alquimistas são pessoas com um poder muito acima do mero convencional, podendo fazer coisas que se assemelham a milagres. E eles, que possuem capacidades tão diferentes de nós, são humanos?


"Deveríamos estar mortos, e ai acordamos com o corpo assim"


Outras criaturas que possuem um papel importante são as quimeras, como na mitologia, são os cruzamentos alquímicos de vários animais. Por vezes é tentado executar esses cruzamentos com humanos, apesar de ser um proibição e o resultado geral ser a morte. Em pequenas exceções os "experimentos" geram criaturas que mantêm a consciência e até mesmo a forma humana e poderiam passar desapercebidos. E eles, seriam humanos?



"Eu sou um ser humano!"

Os protagonistas da série, os irmãos elric, quebraram um dos mais importantes tabus. E o preço pago por isso foi alto demais. Alphonse elric perdeu seu corpo, e vive com a alma ligada a uma armadura de metal. Mantêm suas memórias e sentimentos, apesar de não comer, beber, dormir, sentir, chorar... Ele é um humano?

Talvez todos eles sejam. Pessoalmente não creio que o que nos faz humanos sejam nossas necessidades, ou nossas fraquezas (esse é um conceito interessante, em vampiro a máscara o que torna os vampiros reais membros de seus clãs são suas fraquezas), muito menos seria nossa capacidade ou nossa força. O que nos faz humanos são nossos sonhos! É querer e almejar ser humano, e lutar pelo direito de sê-lo! Quer tenhamos olhos vermelhos (ishivalites), quer sejamos imortais, o que nos faz um ser humano é a vontade de lutar por isso! E sem isso, posso ser cotidiano, tributável e respeitável, mas nunca serei um ser humano de verdade! Sem a vontade e o sonho a nos impulsionar, seremos só uma pequenina mancha dentro de uma garrafinha.




*outra teoria que ajuda a comprovar a resistência dos homúnculos é a origem do termo. Se refere a um experimento que imitava a vida humana, criando uma espécia de autômato sem essas necessidades.

ps.: A maioria das imagens aqui são do anime, como muita gente ainda está lendo o mangá não queria estragar nenhuma surpresa.

da síndrome das "palavras presas"



















quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

da síndrome das "pequenas letrinhas"


Um grande amigo me perguntou do motivo pelo qual eu uso letras minúsculas pra me referir a nomes próprios. Afinal essa é uma das regras mais elementares da nossa língua. Na realidade me perguntava se alguém iria perceber, quem o faria e quando.

E de certa forma isso me dá ensejo pra falar de algo que quero muito. Se por algum motivo alguém achar que a conexão entre assuntos que faço é ruim, não me desculpem. Vocês provavelmente estão certos, e eu dificilmente vou mudar isso.

Classificamos os nomes próprios como os nomes aos quais damos personalidade. Não são apenas nomes de pessoas no sentido estrito, mas são nomes que indicam personalidade. Um exemplo pra que meu ponto de vista fique mais claro. Na história de matrix, um rôbo foi o primeiro a assassinar um humano. Nas crônicas de animatrix ("segundo despertar"), esse rôbo é conhecido como b166er. Esse é seu nome e seu modelo. Portanto é sua denominação como objeto. Os modelos b166 eram modelos caseiros, era passível sua utilização sem a inicial maiúscula, seria uma metonímia da marca pelo produto. Todavia, quando o nosso b166 em questão, mata um humano, ele passa a ser o sr. b166 (com letra maiúscula).

No inglês o pronome "I" é escrito com letra maiúscula por regra. Ele é escrito dessa forma não apenas pra facilitar a diferenciação no texto, e sim porque este pronome agrega personalidade. O pronome I já foi definido como sendo "o sentido geral de tudo que é você e que faz parte de você, quer seja conhecido ou privado" (não lembro a fonte, mas acreditem, não foi eu). O fato de agregar personalidade é o fato que faz o I ser escrito com letra maiúscula.

Aqui, por mórbida decisão, não usarei dessa prática (letras maiúsculas em nomes próprios). Não porque não creia que a personalidade seja parte integrante do indivíduo. Mas porque creio que usar a letra maiúscula é uma prática que me desagrada.

Harbemas (aqui com letra maiúscula por iniciar a frase), foi quem disse: "o primeiro meio de controle é a linguagem". Afinal, a sanção social recai sobre aquele que não escreve de forma correta. Em parte por imposição, e em parte por positivação.

Sem um mínimo de coerência seria impossível compreender o que se escreve ou fala. Todavia, certas pesquisas mostram que se somente as letras inicias e finais estiverem na ordem certa, as outras podem estar embaralhadas, e nós edtneneomrs o que se quer dizer. Contudo, por nossa própria vontade haverá a imposição de sanções pessoais ao texto daquela pessoa.

Mas voltemos a letra maiúscula. A expressão da personalidade. Mas podemos dizer que o sinal lingüístico da letra maiúscula é o que determina essa personalidade? De certo que não. Não há necessidade da letra maiúscula pra entender que se fala de um ser humano com aspirações e sonhos. E isso nos força a ver os nomes como objetos (que é o que nosso costume lingüístico promove, substantivos com letra minúscula no início são substantivos comuns). E nos força a pensar o que pra nós são seres humanos. Essa pequena letra no inicio das palavras, tem o poder de determinar o que pensamos? Precisamos dela pra expressar esse sentido?

Construímos nossa sociedade de um jeito bem interessante. Os dominados são usados como seu alicerce. É com base na exploração deles que construímos o nosso bem estar, e nós, pela dominação a nós exercida, construímos o bem estar de alguém.

Mudar uma letra num blog vai adiantar de alguma coisa? Obviamente não!

Libertará alguém? O próprio escritor pelo menos menos? Tão pouco.

Isso é só um ponto de vista, um protesto tolo, contra essas pequenas letrinhas.

da síndrome das "rosas"

Numa caixa perto de você...


-humhummhum...


-humumumhum...

- Hum, nossa J..., tá ouvindo esse barulho?

- húuuum, hum hum hum!

- ...

- Acho que tô sim! Mas o que será? Parece um gemido?

- huuum hum humhum!

- Vixi! Nem fala essas coisas, morro de medo disso! Tá ouvindo A...?

-hum, hum, hum, hum... hum hum!

- Aham! Sabe uma vez ouvi uma história assim... Será que que aconteceu alguma coisa aqui nesse prédio?

- Húm! ham ham ham aham! Húúúúmm hum hum!

- thiago, para de cantarolar por favor!

-Desculpa!


terça-feira, 8 de janeiro de 2008

da síndrome do "peixe grande"

A mais adorável das síndromes! Se um dia eu pudesse enumerar meus tesouros, entre as poucas palavras que estariam escritas no papel ou na mente, a síndrome do "peixe grande" está por sobre todas elas.

É a mais simples de todas as síndromes. É uma senha. Uma sentença.

A fama dos pescadores é bem conhecida por suas histórias fantasiosas. A síndrome do "peixe grande" faz uma certa alusão a eles. É a compulsão por histórias. Mas não qualquer história, mas aquelas que fazem parte de seu próprio tesouro.

Os romanos diziam que navegar era preciso. Sim de fato. Mas a necessidade em navegar, não era a necessidade de dominar. A necessidade de navegar era a necessidade de conhecer e de acumular mais e mais histórias.

Assim canta fernando pessoa em "mar português": "Por te cruzar quantas mães choraram, filhos em vão rezaram, noivas ficaram por casar". Sacrificáva-se tudo, pelo conhecimento, que se cristalizava em forma de história, de sua preciosa história.

Os portadores dessa síndrome tem suas prórprias justificativas para sua busca insana. Honra, fama, altruismo, ganância. Todavia essas são apenas ficções. A verdadeira motivaçõa foi, e sempre é, conhecer histórias, por pura e simplel necessidade de conhecê-las!

Algumas vezes o contador carece do que bourdier chamaria de poder simbólico. Da força que o senso comum o concede para que ele seja tido como confiável. É dai que voltamos a triste sina dos pescadores, tido como mentirosos em suas histórias, que todavia não cessam de contar. Por que não importa se são acreditados ou não, o que importa é contar.

Eu tinha medo que meu poder simbólico não me permitisse contar minhas histórias sem ser acreditado. Uma coisa mudou em mim. Eu não tenho mais medo, isso apenas não me importa mais.

No filme "big fish" (com direção de tim burton e nomes como ewan mcgregor, steve buschemi e danny devito) essa "senha" é usada, e somos convidados a uma jornada para descubrir as preciosidades de um outro contador edward bloom. Viajamos através de sua vida de contos, pelos seus próprios olhos, os olhos de seu filho, e quiça o olho de vidro da bruxa.

As vezes precisamos abrir o porão de nossas histórias, desempoerar nossas riquezas, afinal, alguns peixes não crescem em aquários pequenos.

Mas creiam-me, existem muitos doentes desta síndrome! Nós ouvimos alguns, lemos outros, e até mesmo conversamos com estes (des?)afortunados. Well, it would've been, could've been worse than you never know!

A mais antiga das artes, o mais doce do males.

Algumas vezes, sem que ninguém veja as gralhas se reúnem. Todas fazem um grande círculo, uma vai ao centro, depois de algum tempo, ou todas as aves partem, ou todas as aves atacam aquela que estava no centro.

Em alguns casos clínicos agravados, os portadores da síndrome não se contem, e veêm histórias em qualquer lugar. Agrava-se o caso quando associada a síndrome de "CROATOAN".

Por vezes as histórias não tem sentido, e nem mesmo motivos. Surgem ...

Um faraó certa vez foi capturado e dinte dele foi feito passar seu mais poderoso exército capturado, marchando pra morte. Mas o velho faraó ficou impassível.

... de forma inexplicável. Não há ...

Seus inimgos fizeram vir seus filhos que foram mortos diante de seus olhos. Mesmo assim o monarca não se mostrou abalado. E ainda quando sua mulher foi morta, nele não havia qualquer sombra de desconforto.

... cuidados que possam ser tomados. Acreditar em suas histórias, ou não é indiferente, eles continuarão contando. Os resultados em casos adiantados ainda são desconhecidos.

Entretanto, quando após todas essas provações, o faraó viu seu copeiro, servindo como copeiro dos dominadores, desesperou-se. E atirando-se ao chão gritava e arrancava os cabelos.




segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

da síndrome de "CROATOAN"


As pontas brilhantes no céu do atlântico norte pareciam dar calma e paz. John white as olhava com um certo saudosismo. Três anos separavam ele da lembrança daquelas estrelas. E não apenas as estrelas lhe davam saudades. Ali estavam seus queridos. Mais ou menos cem dos seus bons amigos e familiares. "Como estará minha neta virgínia?", "Se lembrará de mim?". Certamente esses pensamentos e outros semelhantes povoavam a terra obscura e incerta que chamamos "mente". A temida armada espanhola havia enclausurado a ele e a própria inglaterra no seu prepotente padacinho de terra. Os problemas com as sucessões após a morte da rainha virgem, james I, a maldita lembrança de bloody mary e todas as convulsões politicas e religiosas que o haviam prendido, agora cessavam. A armada agora navegava pelo baú de davy jones. James, elizabeth, não importava mais a ele os nomes de monarcas ou de qualquer outro. Apenas um nome importava "lar", a coluna de fumaça que subia da vila quase dizia "está tudo em paz. Sentimos sua falta!". Ali diante dele, com o vento gelado e salgado a acariar-lhe o rosto estava roanoke. Seu "lar". Ele estava de volta. E o desjejum, dessa vez, seria tomado entre os seus amigos, assim que o sol viesse, eles também definitivamente voltariam pra casa.

***

O que era aquele barulho ensurdecedor? Batidas, fortes ritmicas. Seriam selvagens certamente... não... era algo mais. Um sinal? De ajuda! Um pedido de socorro! Certamente era um pedido de socorro! De quem? Os outros atônitos não pareciam notar... mas... ah, eram só as batidas do coração de sir white.

Lá estava ele paralisado, a vila abandonada, vazia. Não havia mensagens, sinais, pedidos de ajuda. Ontem ele viu fumaça, e hoje o que desperta diante de seus olhos é apenas a palavra inscrita no tronco da árvore: "CROATOAN"


***

E assim surgia a primeira lenda urbana do novo mundo. Temos tantas hoje, das mais simples e bobas, as mais terríveis e plausíveis. Mas também temos as desconhecidas. E por que existem essas, que são tratadas como lendas desconhecidas? Simples, suas vítimas, ou seus atores, já as acham tão normal, que não se dão ao trabalho de recontá-las.

Existe uma centena de explicações possíveis, não assutadoras e enfadonhas para o mistério de roanoke. Mas a história comum, aquela que repetimos com paixão e longe das academias, preferiu a justificativa inexplicável. Um mistério, uma lenda urbana.

Em nosso dia-a-dia, coisas tão inexplicáveis acontecem. Conhecemos pessoas, cartões telefônicos somem, refeições são recebidas, abraços são ofertados (muito obrigado suneko meu amigo pelos relatos de mistério), lágrimas são derramadas, culpas são encobertas, verdades são conhecidas. E cremos que isso não é nada mais que uma rotina. Um dia normal.

Nossa história comum, prefere relatar o conto misterioso da lenda urbana porque precisa acreditar na fantasia e no inexplicável. Porque precisa olhar a estrelas e ver sinais, e não reações nucleares em cadeia a bilhões de quilometros.

Nós cremos que as coisas estapafúrdias de nosso dia-a-dia são rotinas, porque temos que ter certeza que o impossível só aconteça nas noites de trovoadas quando nos juntamos para relatar nossas histórias.

Sonho e realidade nunca foram excludentes. Muito pelo contrário, são necessidades um do outro. Essa é a síndrome; a geral e a individual. Na geral cremos nos sonhos e milagres na história, nos romances e "lá fora", escolhemos o "CROATOAN" mítico. Na individual, queremos que as coisas bizarras do cotidiano sejam apenas bizarras e nada a mais. Queremos que os abraços sejam falsos, que os desaparecimentos sejam ignorados. Ou seja, escolhemos o "CROATOAN" chato e enfadonho. Tão somente porque temos medo de aceitar o desconhecido. E repetimos pra nós mesmos "ah, eles migraram pra uma ilha".

A síndrome de crer no impossível alheio e no certo nosso. Eram mais de cem pessoas, e tem várias explicações. Mas foi só um abraço, poderia ser um sinal? Um pedido? Ousaríamos crer?

Tenho um pouco de ambas, da geral e da individual, só que da forma inversa. Creio no lógico alheio e o impossível pessoal, talvez meu caso seja o mais grave. Mas do profundo de minha síndrome eu acreditei. E foram os três mil quilômetros mais fáceis de percorrer!


à meu amigo suneko pelos relatos de horror, muito obrigado.

à minha esposa que está sempre perto e me faz feliz pela minha síndrome, muito obrigado.







domingo, 6 de janeiro de 2008

da síndrome do "vento e da escuridão"


Suplica a Brisa...

Noite, das estrelas parteira e coveiro

Em vossa honra, agora careço

Pois de minha alcova o mais escondido troféu

Que, quando morrem as luzes me leva ao léu

Que por minha língua e por minha pele

E por meu sangue, o que esta serva oferece

Busquei, e lutei pra que por mim se grave

O dragão, não de sonho, mas de jade.


Este tesouro, com minha boca te dou.

Diz-me te peço, o que o espírito calou.

E mostra-me, suplico, como devorar o sonho,

E como este animal, um simples tacanho.

Pode tomar o destino

Daquele, que desgraçadamente amo.

De humano é sua comida e sua bebida

E eu fera, desesperadamente perdida.

Ele não me vê como sua igual.

E não haverá amor tal.

Eu me calarei para resignar

Ao meu silêncio de besta e amar.

Mas se posso, e é melhor, com o meu destino

Sacrificar e mudar seu sino.

Diz-me então noite infinita, pois sou raposa

Verás que sou uma besta fera bem astuta.

A Noite troveja...

Tu sabes a resposta que procuras

De noite e de dia abrirás teus olhos, e perscruta

E vede, que de seu sonho te alimentes

E será teu destino seres,

Alguém que vê e que ausculta,

Tua escolha, criança te fará defunta.

Tu serás uma sombra, que em teus parcos dias não encontrarás

Teu amor e teus sonhos. Levarás como teu pendão, tua paz.

Persevera o Hálito...

Meu destino conheço e disposta estou,

O triste fado de um grou.

Se tão somente para ele eu for

A luz que tire do torpor

Pálido que a morte obriga

Inda que tenha meus sentimentos como inimiga

Eu ainda chorarei em montanhas longínquas

A dor que desde já me queima contínua.

Esfria a Treva...

Tu chorarás as dores que tu te causaste

E poder para que tu de sentir-la cessasse

Reside na tua escolha. Acaso não querias

Aquele templo de cobertura e guarita?

Toma o espólio que o destino te deu.

Para que diante do sol usarás um véu?

Ou te vai, e esquece pra sempre esse monge

Fica velha, tem sorte, e morre do que o tempo te tange.

Afirma o Suspiro...

De que adiantaria viver ditosa

Ou ser de muito formosa?

E saber que estaria morto

O que transforma em luz o torvo.

Melhor pra mim sempre seria

Saber que diante da noite fria.

Eu disse com a alegria já do além

Que eu o amaria e morreria como ninguém...

Nasce o Sol...

Pois contigo de agora em diante,

Mesmo em meu nascer retumbante.

Morrerei, e a cada segundo em branco

Pintarei em tua homenagem e tanto

A dor que sentes e a morte que escolhes.

E não haverá nunca quem olhe

A lua que no escuro se encolhe

E, talvez sem saber, por ti chore.

sábado, 5 de janeiro de 2008

da síndrome de "álvaro de campos"


De todos os poemas e leituras, as que mais me gravam na mente são as de álvaro de campos. Dentre todos os heterônimos de fernando pessoa, creio ser este com o que mais me identifico. Tem um poema específico, "saudação a walt whitman", que me impressionou bastante quando li. Àquele tempo eu estava lendo as primeiras linhas de fernando pessoa (que conheci mais profundamente pelas mãos da professora sandra helena), e tinha essa sensação inquietante dentro de mim. Era como se eu lesse aquilo que queria colocar em palavras, mas nunca haveria de conseguir com a mesma maestria, a pimeira vez que li "magnificat" foi como se tivesse levado um soco ao estômago! Os meus pensamentos eram ali retratados! Quer como criança, como jovem ou como homem, eu via a mim mesmo refletido naquele poema. E enquanto procurava uma forma de entender o que era aquilo, meus olhos bateram em "saudação".

"(...) Não sou indigno de ti, bem o sabes, Walt, Não sou indigno de ti, basta saudar-te para o não ser... Eu tão contíguo à inércia, tão facilmente cheio de tédio, Sou dos teus, tu bem sabes, e compreendo-te e amo-te, E embora te não conhecesse, nascido pelo ano em que morrias, Sei que me amaste também, que me conheceste, e estou contente. Sei que me conheceste, que me contemplaste e me explicaste, Sei que é isso que eu sou, quer em Brooklyn Ferry dez anos antes de eu nascer, (...)"

Como era possível?! Ali diante de mim, retratados com anos de antecedência, com uma imortalidade precisa, exatamente as palavras que eu buscava! E ele as dirigia a alguém mais! E não quaisquer palavras, mas palavras de uma exatidão maquinal, orgância, lógica, quase sobrenatural! Mas então fui conhecendo mais. E me apaixonei pela forma como fernando pessoa escreve, me apaixonei com o que ele fez com a lingua portuguesa. E de todas as paixões, a maior delas foi a maquinal e técnica paixão pelo que escrevia álvaro de campos!

Desde a forma, até o próprio cerne daquela poesia era viva! É viva! É uma poesia feita de certezas concretas de um mundo que é exato preciso, mas sem deixar de sonhar e de buscar o inexplicável! Álvaro de campos busca esse sonho. Não o impossível e irrealizável, mas o plausível, o concreto, o próximo! Não tratar os sonhos como impossíveis, e sim como possibilidades. Essa foi a maior lição que recebi de álvaro de campos. Todos nós já sabemos dela quando nascemos, assim como os animais sabem como proceder. Nós sabemos dessa certeza, mas esquecemos com o tempo. Álvaro de campos me ajudou a não esquecer! Como uma máquina como um sonho concreto, com as poesias das engrenagens e do frenético e admirável tecnológico, assim ele fazia poesia. Aquilo é magia! Pura, selvagem, irrestrita, caótica e organizada. Isso é magia...

Demorei a acreditar que ele não havia existido de fato, e que na realidade era apenas o sonho de um poeta. Pra mim era inconcebível que não fosse verdade. Demorei a acreditar.

Graças a Deus não durou muito essa minha crença. Então usando minhas palavras escrevo a segunda lição que aprendi de álvaro de campos: "o perigo não é você morrer nos sonhos. O perigo são os sonhos morrerem em você." Muito obrigado álvaro de campos. Humildemente venço mais esse medo (o de ousar): te saudar! "EVOHÉ!"

da síndrome do "último post"


Ragnarök. Obviamente todos sabemos que vem da mitologia nórdica. É o "Destino Final dos Deuses". Na realidade parece uma reunião de velhos amigos de um lado Loki e sua prole homicida, e os gigantes (pessoas com um certo problema de auto-estima), do outro Odin, os Enhejar (uma galera pra quem a adolescência nunca acabou e ficar se dilacerando é super divertido). Mas inegavelmente o ragnarök é o fim.

Quando eu discutia qual seria o assunto do meu primeiro post tenho que admitir que me veio a cabeça falar sobre uma certa dificuldade de escrita que eu tenho. Não cometo tantos erros assim quando manuscrevo, mas quando digito... Minha atenção não fica centrada no teclado, vou escrevendo a medida que as palavras surgem na minha mente e definitivamente não consigo escrever bem. Pensei em falar sobre isso, afinal, eu ja "criei" o Blog há muito tempo (um ano), ja montei o endereço e escolhi o modelo, mas nunca escrevi nada por causa desta dificuldade (Teria que ser algo do tipo "Thereza! Ajeita aqui o que escrevi!" e isso é um saco!). Então cheguei a "brilhante" conclusão de que o que me impedida de escrever, era o medo de errar, tenho medo de ser julgado e de ser reprovado. Em todos esses meses em que levei pra de fato postar aqui não melhorei nada na minha dislexia digital. O que mudou foi que entendi o problema.

Pode parecer pieguiçe, mas isso faz muita diferença. A compreensão do fenômeno. E foi pensando nisso e em algo que minha irmã me falou que resolvi falar sobre o fim. Sou cristão, sou Adventista do Sétimo Dia, e pra mim o conceito de fim é o mesmo que o conceito de inicio, por isso escolhi o ragnarök.

Então meus caros leitores, sejam bem vindos ao meu último post! Não que não pretenda postar mais aqui. Agora que entendi que era o medo que me mantinha longe da escrita simplesmente não posso me permitir não escrever, não é isso. Mas de todos os posts, esse será o final. Como no ragnarök. Tive que matar meus heróis e meus vilões pra vencer meu medo de ser julgado e, não por mera coincidência, meus hérois e vilões, meus acertos e erros são sim aparentados, irmanados e afilhados, e me sinto como me encontrando com velhos amigos nesse momento de exorcizá-los. Bom é isso, foi bom ter estado com vocês durante todo esse tempo, diferentemente do que acham, é importante ter medo. Como no ragnarök, eu também tenho meus Lif e Lifthrasir, eles vão repovoar este blog com meus textos (engraçada a semelhança, a nossa lingua não deixa ver, mas em Adão e Eva, temos o mesmo conceito, os nomes na lingua original são Ish e Isha, o nome dela é feito a partir do nome dele). Agora, se minha memória não me falha, e realmente um novo mundo nasce em minha mente... bom, devo sentir uma dor de cabeça abissal a qualquer momento!

Walter benjamim uma vez disse que é no momento da morte que entendemos a vida, pois pode-se ver o fenômeno como um todo, ter uma segunda chance, ter um renascer é uma oportunidade de ouro. Talvez eu devêsse estar mais grato por ser capaz de escrever com medo, mas sem deixar ser controlado por ele. Acho que vou lidar melhor com minha dor de cabeça.