sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

da síndrome de "muse"

Recentemente eu redescobri uma banda. Muse. Eles são da década de 90 então eu já havia escutado alguma coisa deles principalmente muscle museum do terceiro albúm deles (hullabaloo, 2002). Os redescobri graças ao guitar hero, se você gosta de jogos e música, isso é "leitura" obrigatória, quem já tocou knights of cydonia sabe perfeitamente a sensação.

Eles tem um som alternativo que parece uma mistura louca de radiohead com alguma outra coisa a mais. Muse é de teignmouth, inglaterra, eles se formaram em 1994 na escola e já em 1999 seu primeiro cd showbizz já havia saído. No vocal e piano tem metthew bellamy, no baixo, cristopher wolstenholme e na bateria dominic howard. Bellamy disse que as suas fontes são queen e rage against the machine (??!!). Se você tem alguma dúvida da opinião deles, procure por queen em invincible e pelo rage em time is running out e um pouco dos dois em starlight.

A discografia da banda conta com cinco capítulos; showbizz (1999), origin of symetry (2001), hullabaloo (2004), absolution (2006) e black holes and revelations (2006). No site oficial da banda é possível ouvir completas as músicas de cada cd, tem uma seção de fotos de vários shows. Enfim, tudo que você precisa pra, como eu, escrever no seu blog sem mal saber sobre quem de fato é a banda. O grande diferencial é aquilo que você não consegue no site.

Muse não pra todos os gostos, nem mesmo pra gostos refinados ou tolos, nobres ou mesquinhos, não há classificação ou rótulos, a música simplesmente vibra por você, é como se cada palavra fosse advinhada e cada melodia fosse profeticamente prevista. Loucura? De forma nenhuma. Uma síndrome. Você se sente tão uno com a música que faz parte dela e é composto em cada acorde. Você já viu isso antes? Com outras coisas talvez? Alguém se tornar uno com... casas, títulos, conquistas, honrarias? Acho que não sou o único e muito menos o pior. Mas não me justifico, aconselho; Siga-me.

Invencible - black holes & revelations

Time is running out - absolution

Knights of cydonia - black holes & revelations

Starlight - black holes & revelations

Hysteria - absolution

Muscle museum - hullabaloo

Supermassive black hole - black holes & revelations

Bliss - origin of symetry

Cave - showbizz

Uno - showbizz























quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

da síndrome da "cemiterada"


Nas nossas cidades de concreto e ferro muito pouco se fala sobre a morte. Não por uma questão de medo (ainda que este esteja sempre presente), mas é por uma questão de praticidade, morrer é muito trabalhoso (não que o diga por experiência própria)!

Nesse aspecto (a secundarização do medo) nos aproximamos muito de nossos antepassados. Houve um tempo em que a morte não era separada da vida, mas sim aceita como parte de seu contexto. Acompanhava-se o querido em seus últimos suspiros, e após todos os ritos e lágrimas, o bom cadáver era colocado bem ali, numa das paredes da igreja, onde, a despeito de não ser visto, poderia ser sentindo (pelo olfato principalmente) a cada missa.

Na frança, poucos anos antes (1776) de tornar-se ele próprio um defunto, luís XVI preocupava-se com a saúde pública e com os males que os odores dos queridos idos poderiam causar aos queridos que ficavam, e edita um decreto que proíbe que ocorressem enterros em capelas.

Sófocles retrata em antígona a saga de uma irmã que, quebrando a lei posta pela cidade, presta os ritos funerários a seu irmão, um traidor de tebas, seguindo a lei dos antepassados. Tal qual na tragédia (com menos glamour), a determinação da coroa francesa não foi seguida.

O fato era que a fé comum dizia que as almas que purgavam seus pecados, ou mesmo que repousavam no céu, estariam mais tranqüilas e calmas se esperassem pelo retorno de Deus na sua própria casa, como convidados queridos que esperam um amigo. O mérito não se deve levar em consideração, afinal a fé é crer quando parece impossível, crer no provado é a ciência.

Deste lado do atlântico tivemos das nossas também. Na bahia em 25 de outubro de 1836. Buscando se orientar com o que havia de mais moderno na ciência higienista européia (e fazer cumprir uma lei de 1828), foram proibidos os enterros em mosteiros e igrejas. Estes seriam executados por uma companhia privada.

Então naquela data quando os sinos dobraram, eles o fizeram para convocar ao protesto. E seguiu-se a ele. O povo reagiu com força e fúria como resposta ao desrespeito para com os mortos e alvejando a ganância dos vivos.

A salvação estava na igreja.

Este fato, que repercutiu no restante do império atrasou em muito a necessária reforma cemiteral. Ciência e fé não tem lá um bom histórico de relações. E simplesmente por que as pessoas de ciência se apegam a corpos mortos e envelhecidos de práticas esquecidas de intolerância e as pessoas de fé forçam sua verdade para a boa saúde dos que os cercam sem ouvir ou ponderar sobre o mais sábio (ou eu teria trocado?).

Quando sou um cientista ajo como um fundamentalista. Quando sou cristão ajo como um egocêntrico que crê que apenas eu estou certo. O cientista e o cristão que sou deveriam aprender um com o outro.

E estes dois corpos de duas irmãs de fé que forma encontrados no mosteiro da luz, mataram alguém com seus miasmas? Estão mais distante de Deus agora que terão pequenos pedacinhos seus enviados para laboratórios do outro lado do equador? Elas parecem dormir tão tranqüilamente, alheias a tudo.

Nossa fé e nossa ciência não podem conviver uma sem a outra. São partes não antagônicas do conhecimento. Até entendermos isso ainda teremos esqueletos no armário.






terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

da síndrome do "combate de bárbaros"

Determinação. Existem muitos exemplos que se podem dar. Alguém que contra tudo e contra todos consegue uma aprovação no vestibular, conquistar seus medos através da própria força de vontade, vencer. Enfim, exemplos. Mas dentre todos os exemplos que lembro de determinação a grande maioria deles poderia ser citado dos mangás que já li.

Não há como ignorar o que os mangás representam. Eles deixaram de ser um nicho cultural, nas tvs do dia-a-dia, na internet pode se encontrar muito do que vem de mangás e animes. Eles representam um fenômeno uma redescoberta do oriente pelo ocidente que recomeçou no fim da década de 80. Enquanto escrevo sinto minha pele aquecer (calma, é só gripe), minha cabeça dói e meus olhos ardem. Há alguns minutos atrás parei o que estava fazendo e fui ler um dos mangás que acompanho. Bleach. E não pude deixar de escrever qualquer coisa que não fosse sobre determinação.

É claro que não sei o que é viver com a honra baseada no fio da espada, em nosso mundo onde honras e espadas são apenas ornamentos é muito difícil que qualquer pessoa entenda. Tenho quase que certeza que o próprio tite kubo (esse é o mangaká - que é o dito que desenha e escreve o mangá) não sabe o que é viver como os personagens que ele criou. Bleach fala sobre o shinigamis (a figura mitológica que no japão são os deuses da morte), eles são guerreiros que além de cuidar da passagem das almas (supostamente sua atividade principal) enfrentam desafios em favor da raça humana. São seres com os mesmos amores e terrores que um ser humano. Traições, amor e fúria como qualquer um de nós.

No atual momento da história a grandiosidade do confronto que tem pela frente os protagonistas é com certeza o ápice que o mangá vai alcançar.

Desde o capítulo 307 até o atual (311) dois personagens se enfrentam. Mas aquilo não é mais um confronto. É apenas um encontro de duas existências antagônicas. Um confronto inclui vontade, emoção. Aquele encontro só tem uma emoção, uma vontade: a sobrevivência. Vendo o confronto você entende que sobreviver é simples, basta que você resista, e aquilo que te impede não. Em resumo, é uma questão de determinação.

Não consigo imaginar como seria viver assim. Com a vida e a honra no fio da espada. Sorrindo a cada combate, sobrevivendo e com tamanha determinação. Creio que seja essa é a mensagem que se passou. Não que você deve ser violento e decidir tudo com base em quem é mais fraco (isso seria um interpretação estapafúrdia de tudo o que eu disse aqui ou do que se escreveu no mangá), mas que a força de vontade e a determinação ainda são vivas hoje. Pode até não ser no fio de uma espada, mas em ideais... sinceramente não sei. Acho que hoje deixei a febre escrever.

Por determinação,
Pela honra,
Por orgulho,
Ainda que para defender o que se ama,
Por tudo isso vale a pena viver pelo fio da espada!(?)






















Não ousaria dizer boa sorte. "Boa luta kenpachi taishou!" \o/

Se alguém que não entendeu quiser compreender melhor ao que me refiro, aconselho a procurar ver pelos próprios olhos dos guerreiros. Leia bleach.



domingo, 24 de fevereiro de 2008

da síndrome de "ave atque vale"

Há muito tempo atrás, numa galáxia muito distante, um jovem a cavaleiro jedi ao conversar com o seu irmão de lutas falou sobre escritos antigos de um grande mestre de segredos imorais (sim imorais e não imortais). Esse mestre chamava-se alan moore, e os escritos atendiam pelo nome de "v for vendetta". Àquele tempo contudo nada foi levado a sério.

Mas erros assim não persistem pra sempre. Esse cavaleiro jedi, que vos escreve, se tornou um sith (enfim o que se fazer né?), e li "v de vingança". Nossa, e como li! Durante meses lia as cinco revistas pelo menos uma vez por semana. Eu ouso dizer que "v" (ou codinome v que achei muito mais divertido) foi/é o meu vilão preferido (sim senhoras e senhores, não se deixem enganar pelo filme, v é um vilão, esse é o preço de escolher a vingança).

Agora, depois do filme, com certeza falar sobre o enredo seria tolice, todos vocês conhecem, ainda que o da hq seja diferente, bom se estiverem curiosos leiam. O fato foi que durante meses eu li v de vingança e sempre uma frase me chamava a atenção: "ave atque vale".

Por algum motivo algumas pessoas acham que eu entendo latim. Não entendo. Curso direito na faculdade, mas não entendo latim. Palavras isoladas montam significados aproximados e isso me ajuda a entender. Pronto, nada demais. Digo isso por que eu me perguntava o significado da frase. A personagem que a usava, logo após dizia outra que eu tinha certeza que era seu significado ("hail and farewell), mas quando digo significado, me refiro a essência, a referência de onde ela foi retirada. Naquele momento da história era muito importante, eu não podia deixar de entender.

Alguma pesquisa depois eu descobri que se tratava de um poema de um certo senhor romano chamado gaius valerius catullus, da velha escola (muito velha na realidade, se você considerar que o sr. catullus morreu em 54 a.C.). Falava sobre amizade imorredoura. Sobre distâncias e abismos que podem ser superados, mesmo que a razão diga o diferente.

Hoje recebi meus amigos em minha casa. Não tenho lá muitos amigos, mas são os melhores! Eu achei que entendia o significado do poema e o motivo de sua citação. Estava errado. Hoje sei que não entendo o poema e o motivo de sua citação, mas sei que o entendo melhor. Entendo melhor o que é amar a grandes distâncias e superar desafios incomensuráveis! Entendo melhor a força da amizade e a alegria que uma tarde pode ter com cartas e amigos ao redor de uma mesa ("cara não levanto dessa mesa por nada!"). O poema é triste (é fúnebre), mas não o que ele representa. E é pelo símbolo que me intriguei. Pelo símbolo me alegro, pelo símbolo é que o transcrevo.

Apesar de ser verdade sobre todos os tipos de amor, o poema falava sobre amizade. Uma amizade que nunca morre. E hoje sentado diante do computador lembro de cada amigo, os de perto e os de longe, lembro dos desafios e lembro da sensação de olhar ao redor de si e pensar: "esses daqui são irmãos pra toda a vida!"


Ave atque Vale*
(Olá e Adeus)

Por muitos países e através de muitos mares
Eu vim, irmão, para estes ritos tristes,
Para prestar esta última honra aos mortos,
e falar (com que propósito?) para suas cinzas silentes,
Agora o destino o tomou, até mesmo você, de mim.
Oh, irmão, arrancado de mim de forma tão cruel,
Agora pelo menos leve estas últimas oferendas, abençoadas
pelas tradições dos nossos pais, dádivas aos mortos.
Aceite, o que por costume, as lágrimas de um irmão representam,
e, pela eternidade, irmão "Ave atque Vale".

gaius valerius catullus





*É uma livre tradução para o português com base em uma tradução do inglês, pois como eu já disse, sou péssimo em latim.


sábado, 23 de fevereiro de 2008

da síndrome da "china malikiana"

Síndromes. Como dito um fato sem razões que o determinam ocorre e causa o aparecimento de efeitos e sintomas. Obviamente não podemos confundir com um simples mau-estar, ou mesmo com aquelas sensações que nos acostumamos a chamar de doenças da mente. Afinal a síndrome de down por exemplo não pode ser considerada uma doença da mente. Todas as síndromes tem algo em comum: o fato gerador. Esse fato é aleatório ou sem razão (ao menos sem razão conhecida, por que tudo o que existe tem um motivo e razão, mesmo o caos encerra uma certa ordem), é o que inicia as manifestações. Pode ser um cromossomo duplicado, um seqüestro ou um outro "x" no seu parzinho genético de gametas.

Contudo, se o fato gerador é o responsável pelos efeitos, então a mais grave (e sendo síndromes a mais abrangente) é aquela que possui o fato aleatório mais abrangente.

Portanto mesmo lamentando ser portador de más notícias, tenho de dizer: você é um infectado. O nome de sua seu mal é síndrome da china malikiana, e o seu fato gerador foi seu nascimento.

O seu nascimento faz de você parte da sociedade que o envolve, logo, você colabora, concorda e apóia o seu grupo social, desde a mais alta virtude até o pior preconceito. Não importa o que você faça todos os árabes são terroristas, todos os nordestinos mortos de fome, todo todo jovem negro é ladrão e tudo que fica acima de são paulo é o nordeste brasileiro (menos miami, claro).

Essa síndrome inclusive se lança sobre os meios mais "intelectualizados" da sociedade. Todo o americano é um imperialista de merda, todo latino-americano é coitadinho e toda política populista é um flerte com a ditadura.

Cura? A maior parte do afetados não crê que esteja doente. Apenas tem uma opinião diferente, ou se preocupa com a segurança ou mesmo (a minha preferida) reflete as estatísticas. Mas creio que o tratamento do doutor chaves (não o hugo) seja bastante bom. Em seu famoso brocado ele proclama: "Estatísticas? Não conheço essas senhoras".

Síndrome de china malikiana é apenas seu nome clínico. Possivelmente você conhece seu nome coloquial; preconceito, burrice, racismo, reacionarismo ou qualquer outra face que a síndrome demonstre. E todos nós sofremos dela. Eu sofro! Eu sou preconceituoso, burro, racista dentre outros predicados. Não com orgulho de o ser ou com a vontade de o ser, mas consciente de que eu tenho a síndrome da china malikiana. E você também tem! E salman rushidie também (quem cunhou o termo no seu livro "fúria").

Popper (também portador da síndrome) dizia que todos estamos em jaulas. Elas são feitas de nossos conhecimentos, de nossas experiências, de nossos dogmas científicos, religiosos, sociais enfim. E que somente o questionamento crítico da jaula nos faz vê-la e ultrapassá-la. Entretanto fazemos isso apenas para nos vermos em outra jaula. O questionamento é constante.

Bom tratamento.

"Síndrome da China malikiana. (...). eu sou o cara que foi mesmo pra esses lugares e trouxe as más notícias, mas isso não impede você de me censurar por causa disso, por causa da minha cidadania, que na sua cabeça pirada me faz responsáve pelo grande mal que continuam praticando em meu pobre nome".

Fúria. Salman rushidie. pg. 85





sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

da síndrome das "partes"

Quando você se olha no espelho, quantos de você mesmo é possível enxergar? A tradição cristã nos ensina que somos um só, uma só alma. O mestre saramago diz que somos uma coisa sem nome. Não pretendo corrigí-lo mas, sobre mim, o correto seria: "Essas coisas sem nome, isso é o que sou". Uma frase egocêntrica certamente, mas verdadeira.

Dentro de mim há partes, várias. Mas elas se agrupam em torno de algumas outras. Como se fosse um círculo de amigos, onde um deles de tão seguro nunca é interrompido, ainda que nem sempre certo.

Uma parte de mim está feliz por ver o meu sobrinho com uma cicatriz no queixo e já abrindo a porta do meu quarto perguntando por mim. Já a outra parte está triste por que ela não está aqui.

Uma parte de mim crê que o regime de cuba (que Deus o/a tenha) libertou de muitas opressões e representou uma quebra de uma ordem exploradora que beneficiava a muito poucos, crê que fidel castro foi um libertador. Outra parte de mim sabe que ditadores e repressões de liberdades individuais são nefastos não importando o que esses regimes façam de "bom". Em qualquer lugar do mundo isso é verdade, na ilha ou em nosso faz-de-conta.

Uma parte de mim está contente por que no dia que faço anos posso juntar meus amigos (poucos, mas os melhores que poderia escolher). Uma parte de mim está triste por que ela não está aqui.

Uma parte de mim acredita que a ciência que estuda o que marca um ser humano é a biologia, e que fetos são vidas quando de fato se tornam vidas. Já a outra parte, acredita que o campo do conhecimento que estuda o ser humano é a filosofia.

Uma parte de mim está em belém, outra parte está em curitiba.

Uma parte de mim é anarquista e vê o estado como a opressão do ser sobre seu semelhante. Outra parte é acomodada e nem se importa com isso.

Uma parte de mim quer morar na metrópole em meio a vida urbanóide de um ritmo veloz como um metrô. A outra quer só passar o tempo quietinho aproveitando os filhos e a esposa numa fazenda em qualquer lugar.


Uma parte de mim nunca se arrependeu da escolha de um ano e sete meses atrás. A outra tampouco!
Uma parte de mim é o homem mais feliz do mundo! A outra é ainda mais!

E essas partes que não se anulam mas sempre se somam, minhas partes, meus pedaços. Sou assim, só completo perto daquela(es) que amo. Sempre completo a cada dia desde que ame. Piegas não é verdade? Pois uma parte de mim é assim e feliz por ser assim.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

da síndrome das "cidades"

Desde a primeira vez que vim em curitiba, nunca andei em curitiba, como andei nesses dias. É dificil falar de cidades. Elas não são os prédios antigos, nem mesmo as pessoas. Uma cidade é algo vivo. Um conjunto de prédios, concreto e carne. Cidades são pessoas. Entendam, cidades não são as pessoas, cidades são pessoas.

Há pouco li um email de um amigo dizendo que tem planos de ir embora de belém. Como ele comentou: "O thiago também vai, assim que tiver condições e oportunidade". Ele está certo. Penso em vir pra curitiba. Todavia eu não conheço a cidade, andei por ela, mas andeia pela parte bonita dela. A parte feia - que sei que existe - ainda não me foi apresentada, já a conheço por nome, por jeito, até pelo tom da voz. Mas nunca a vi, nunca apertei sua mão, não sei como é seu rosto. Nesse ponto conheço melhor belém.

Minha decisão de ir, não é pelo que não conheço de curitiba. É pelo que conheço de belém. Alguns acham que a cidade é pouco ambiciosa, e que é dificl fazer ousar ou vencer. Não concordo. Desejo me afastar de belém, como quem deseja se afastar da mãe. O momento chega em que você tem de ousar novos passos.

Há dias (12 de janeiro) tive palavras presas pra falar de belém. Hoje longe dela parece que a entendo melhor. Já disse isso aqui, mas walter benjamim diz que no final do processo se possa entender melhor o objeto de estudo. Por isso desejo ir pra longe de belém (além de mil outros motivos), pra entender melhor minha cidade, minhas raizes, entender melhor quem eu sou. Sou piegas e tolo. Mas gosto da minha escolha. Prefiro.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

da síndrome da "fé"

Sobre todos os assuntos que gosto de falar o que mais me agrada é religião! O motivo é simples: A religião é em essência individual e única. É através da religião que nos ligamos a algo que nos guia, impulsiona e mantêm. Você pode ser religioso e não ter fé. A fé é o credo no que é impossível, no que é mágico. A religião é uma concepção filosófica. Por exemplo: As visões mais conservadoras na igreja adventista (igreja da qual eu faço parte), pregam que é pecado comer carne de porco, posto que é um dos animais considerados impróprios para o alimento (levítico cap. 11). Todavia, eu creio que comer carne de porco é desaconcelhável, mas não pecado. Essa é a forma da minha fé, que me associa a concepção filosófica em questão.


Isso me lembra o que locke dizia: "O homem é uma távola rasa, a sociedade que o corrompe". Nossas fés e concepções são também uma távola rasa. Nós as moldamos para o bem e para o mal. Para a compreensão e intolerância. São nossos desafios individuais, nossas vitórias pessoais. Nossas concepções de bem e mal. A verdade é que não temos juizes, e na maioria das vezes, nos focamos só em NOSSOS valores, e os levantamos como se estivéssemos na terceira cruzada.

Falar em mal me vem a cabeça o filme "diamante de sangue" (direção de edward zwick, muito piegas, mas rende uma diversão). Há um diálogo muito interessante sobre o gênero humano. Rende a frase: "Não há pessoas boas ou más. Nossas ações nos definem".

Há muitos paralelos entre a religião e o ser humano. E tudo isso me veio a cabeça quando diante de mim eu vi a catedral que fica no marco zero de curitiba. É dedicada a Nossa Senhora da Luz do Pinhais, a padroeira de curitiba (que significa pinheiral, mas isso já é outra síndrome). Foi construida em 1893, e permaneceu como igreja matriz até 1911. Em estilo neogótico, o projeto é de autoria do arquiteto francês alphonse de plas. É belíssima. Imponente. Simbólica.



Entrei. Não tinha intenção de tirar fotos, mas foi mais forte. Pedi autorização e comecei a escolher ângulos e formas que senti que deveria (aqui eu compartilho algumas, outras são só minhas). Sentando num dos bancos eu ouvi uma voz sussurrando uma prece. Olhei pra traz e vi uma senhora ajoelhada, ela rezava com muito fervor. Lágrimas caiam discretas dos seus olhos e a preçe que fazia era numa língua estranha pra mim. O que pra mim eram ângulos e poses, pra ela era fé. Não me senti culpado. Mas fiquei pensativo e num estado de espirito intrigado. Hoje, dias depois, resolvi falar sobre isso.




Igrejas, leis, tradições - távolas rasas: somos nós quem as corrompemos. E acaba que somos bons nisso.





Vista do pórtico esquerdo com torre ao fundo.




Destaque da torre esquerda.




Orgão na parte superior central interna da catedral. Notem as formas na abóboda sobre o orgão. Esse padrão está presente em toda a igreja.








sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

da síndrome dos "sonhos - o urso e a flor"

Era uma vez um urso e uma flor. Nenhum dos dois se conhecia e nem mesmo havia entre eles um amigo em comum. A flor, era intrépida, muito bonita e muito forte, de uma beleza cálida e suave. Apenas se ressentia, porque, às vezes, durante as tempestades seu caulezinho se dobrava com a força das chuvas. A flor era triste por não ser uma árvore.

Já o urso era muito grande e peludo. Tinha uma cara de mau e causava uma certa impressão. Parecia um bom urso, gostava de peixe, sabia caçar e era quieto. Mas também era um grande bobalhão, e sonhava acordado com coisas impossíveis. O urso era triste por não poder falar de seus sonhos.

Apesar da natureza do urso ser mais sonhadora, ambos tinham devaneios enquanto dormiam. Eles sonhavam. E nos seus sonhos eram pessoas, com seus desafios e provas.

E toda essa história começa com um sonho.

No sonho do urso, ele estava em uma grande sala rodeado de outros seres humanos. Lá ele podia falar de seus sonhos. Mas ainda faltava alguma coisa, que o urso não sabia o que era. Nessa sala, todos comiam com felicidade. "Parece uma fortaleza de amigos", ele pensou. E no sonho dele havia uma moça. Era intrépida, muito bonita e muito forte, de uma beleza cálida e suave. O urso olhava pra ela e ela parecia uma flor! Então o urso esperou a primeira oportunidade pra ir até ela e conversar com a moça-flor.

Já no sonho da flor, ela era uma moça. Era segura de si e bem sucedida, travava seu próprio caminho e não estava triste por não ser uma árvore. Em seu sonho, ela chegou numa sala onde muitos estavam comendo. E lá muitos tinham idéias parecidas com as dela. E ela falava com segurança e felicidade. E no seu sonho apareceu um moço. Ele era peludo e meio bobalhão, mas tinha um certo charme. E nesses sonhos a moça-flor e o moço-urso começaram a conversar e se tornaram amigos.

Durante todos os dias, continuaram a ser flor e urso, sem nem imaginar que, em outro lugar, longe dali, havia outro alguém que sonhava como eles. E todas as noites, em sonhos, conversavam através de cartas e pensamentos, a moça-flor e o moço-urso. Um dia, eles sonharam que iriam se encontrar. Seria num lugar bonito, só deles. Quando acordaram, os dois rumaram pra esse lugar que viram em seus sonhos.

Quando se aproximaram de lá viram (cada um de seu lado) belas e lindas campinas. Entretanto, uma chuva torrencial caía sobre um dos lados da campina. E era o lado da flor. Estava dificil ver qualquer coisa. Mas do outro lado o urso viu a flor, e no mesmo momento reconheceu nela a moça-flor de seus sonhos! Então naquele momento, usando toda a sua voz de urso, ele gritou mais alto que a chuva! E ao mesmo tempo foi mais doce que o vento: "Eu gosto de você!". A flor ouviu a voz, e reconheceu na voz o timbre peculiar da voz do moço-urso de seus sonhos. Mas a chuva impedia a flor de ver direito. O urso se entristeceu e se voltou pra ir embora. Então a flor disse; "Volte!", e a voz da flor se fez ouvir como um sussurro, mas poderosa o suficiente. Então o urso disse que logo voltaria, assim que chegasse o tempo.

A flor ficou muito triste, e voltou pra seu lar. Então um dia, de perto da montanha em que a flor morava, o urso despontou. E ele pensou no que o sonhos fizeram com ele. E ele para.Naquela situação a flor já o havia visto. E corre até ele! Sem mesmo entender o motivo, os dois vivem um dia maravilhoso, e quando vão dormir, descobrem que eles tinham descoberto um portal! E nesse portal, ele poderia ser o moço-urso, e ela, a moça-flor! Então eles respiraram muito fundo e juntos cruzaram o portal! E vivem felizes para sempre - desde 26 de julho de 2006!