quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

da síndrome da "cemiterada"


Nas nossas cidades de concreto e ferro muito pouco se fala sobre a morte. Não por uma questão de medo (ainda que este esteja sempre presente), mas é por uma questão de praticidade, morrer é muito trabalhoso (não que o diga por experiência própria)!

Nesse aspecto (a secundarização do medo) nos aproximamos muito de nossos antepassados. Houve um tempo em que a morte não era separada da vida, mas sim aceita como parte de seu contexto. Acompanhava-se o querido em seus últimos suspiros, e após todos os ritos e lágrimas, o bom cadáver era colocado bem ali, numa das paredes da igreja, onde, a despeito de não ser visto, poderia ser sentindo (pelo olfato principalmente) a cada missa.

Na frança, poucos anos antes (1776) de tornar-se ele próprio um defunto, luís XVI preocupava-se com a saúde pública e com os males que os odores dos queridos idos poderiam causar aos queridos que ficavam, e edita um decreto que proíbe que ocorressem enterros em capelas.

Sófocles retrata em antígona a saga de uma irmã que, quebrando a lei posta pela cidade, presta os ritos funerários a seu irmão, um traidor de tebas, seguindo a lei dos antepassados. Tal qual na tragédia (com menos glamour), a determinação da coroa francesa não foi seguida.

O fato era que a fé comum dizia que as almas que purgavam seus pecados, ou mesmo que repousavam no céu, estariam mais tranqüilas e calmas se esperassem pelo retorno de Deus na sua própria casa, como convidados queridos que esperam um amigo. O mérito não se deve levar em consideração, afinal a fé é crer quando parece impossível, crer no provado é a ciência.

Deste lado do atlântico tivemos das nossas também. Na bahia em 25 de outubro de 1836. Buscando se orientar com o que havia de mais moderno na ciência higienista européia (e fazer cumprir uma lei de 1828), foram proibidos os enterros em mosteiros e igrejas. Estes seriam executados por uma companhia privada.

Então naquela data quando os sinos dobraram, eles o fizeram para convocar ao protesto. E seguiu-se a ele. O povo reagiu com força e fúria como resposta ao desrespeito para com os mortos e alvejando a ganância dos vivos.

A salvação estava na igreja.

Este fato, que repercutiu no restante do império atrasou em muito a necessária reforma cemiteral. Ciência e fé não tem lá um bom histórico de relações. E simplesmente por que as pessoas de ciência se apegam a corpos mortos e envelhecidos de práticas esquecidas de intolerância e as pessoas de fé forçam sua verdade para a boa saúde dos que os cercam sem ouvir ou ponderar sobre o mais sábio (ou eu teria trocado?).

Quando sou um cientista ajo como um fundamentalista. Quando sou cristão ajo como um egocêntrico que crê que apenas eu estou certo. O cientista e o cristão que sou deveriam aprender um com o outro.

E estes dois corpos de duas irmãs de fé que forma encontrados no mosteiro da luz, mataram alguém com seus miasmas? Estão mais distante de Deus agora que terão pequenos pedacinhos seus enviados para laboratórios do outro lado do equador? Elas parecem dormir tão tranqüilamente, alheias a tudo.

Nossa fé e nossa ciência não podem conviver uma sem a outra. São partes não antagônicas do conhecimento. Até entendermos isso ainda teremos esqueletos no armário.






3 comentários:

Lady Sarajevo disse...

-redação UEPA 2007- (daria uma boa nota).
o valor geográfico das coisas se desfaz relativamente a cada impossível (ou possível) que pensamos...

mas... diz aí... voltaste com as letras maiúsculas?

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beijo.

thiago hakai-so disse...

não se pode voltar ao que nunca se usou nesse espaço rs

thiago hakai-so disse...

Errei, e errastes rs

na primeira postagem ainda usava letras maiúsculas em todas as situações. Apenas depois foi que isso mudou... rsrsrs