sábado, 23 de fevereiro de 2008

da síndrome da "china malikiana"

Síndromes. Como dito um fato sem razões que o determinam ocorre e causa o aparecimento de efeitos e sintomas. Obviamente não podemos confundir com um simples mau-estar, ou mesmo com aquelas sensações que nos acostumamos a chamar de doenças da mente. Afinal a síndrome de down por exemplo não pode ser considerada uma doença da mente. Todas as síndromes tem algo em comum: o fato gerador. Esse fato é aleatório ou sem razão (ao menos sem razão conhecida, por que tudo o que existe tem um motivo e razão, mesmo o caos encerra uma certa ordem), é o que inicia as manifestações. Pode ser um cromossomo duplicado, um seqüestro ou um outro "x" no seu parzinho genético de gametas.

Contudo, se o fato gerador é o responsável pelos efeitos, então a mais grave (e sendo síndromes a mais abrangente) é aquela que possui o fato aleatório mais abrangente.

Portanto mesmo lamentando ser portador de más notícias, tenho de dizer: você é um infectado. O nome de sua seu mal é síndrome da china malikiana, e o seu fato gerador foi seu nascimento.

O seu nascimento faz de você parte da sociedade que o envolve, logo, você colabora, concorda e apóia o seu grupo social, desde a mais alta virtude até o pior preconceito. Não importa o que você faça todos os árabes são terroristas, todos os nordestinos mortos de fome, todo todo jovem negro é ladrão e tudo que fica acima de são paulo é o nordeste brasileiro (menos miami, claro).

Essa síndrome inclusive se lança sobre os meios mais "intelectualizados" da sociedade. Todo o americano é um imperialista de merda, todo latino-americano é coitadinho e toda política populista é um flerte com a ditadura.

Cura? A maior parte do afetados não crê que esteja doente. Apenas tem uma opinião diferente, ou se preocupa com a segurança ou mesmo (a minha preferida) reflete as estatísticas. Mas creio que o tratamento do doutor chaves (não o hugo) seja bastante bom. Em seu famoso brocado ele proclama: "Estatísticas? Não conheço essas senhoras".

Síndrome de china malikiana é apenas seu nome clínico. Possivelmente você conhece seu nome coloquial; preconceito, burrice, racismo, reacionarismo ou qualquer outra face que a síndrome demonstre. E todos nós sofremos dela. Eu sofro! Eu sou preconceituoso, burro, racista dentre outros predicados. Não com orgulho de o ser ou com a vontade de o ser, mas consciente de que eu tenho a síndrome da china malikiana. E você também tem! E salman rushidie também (quem cunhou o termo no seu livro "fúria").

Popper (também portador da síndrome) dizia que todos estamos em jaulas. Elas são feitas de nossos conhecimentos, de nossas experiências, de nossos dogmas científicos, religiosos, sociais enfim. E que somente o questionamento crítico da jaula nos faz vê-la e ultrapassá-la. Entretanto fazemos isso apenas para nos vermos em outra jaula. O questionamento é constante.

Bom tratamento.

"Síndrome da China malikiana. (...). eu sou o cara que foi mesmo pra esses lugares e trouxe as más notícias, mas isso não impede você de me censurar por causa disso, por causa da minha cidadania, que na sua cabeça pirada me faz responsáve pelo grande mal que continuam praticando em meu pobre nome".

Fúria. Salman rushidie. pg. 85





2 comentários:

Lady Sarajevo disse...

mas...
tu já impõe q todo mundo tem né... então tá. eu tenho!

:)

só é preciso fazer uma análise sindrômica da coisa (é trabalhoso) mas daria uma outra postagem...
:p

thiago hakai-so disse...

A imposição é metalinguagem da síndrome, entendendo pela imposição do conceito

:S

rs