terça-feira, 22 de janeiro de 2008

da síndrome da "casa"

17° celsius. E diante de mim aquele prédio meio bege. Me perguntei o que eu estava fazendo ali. No passado nunca tive dúvidas do que eu queria fazer da minha vida. Queria ser militar. Era meu sonho, tinha um certo fascínio pela ordem, e as histórias de confrontos me encantavam. Me matriculei num curso preparatório pra colégios militares. Sabe aqueles lugares onde você estuda e faz exercícios como se sua vida dependesse disso? Pois bem, então eu cresci.



Eu comecei a ver que as guerras não são tão engraçadas como na minha mente infantil. Que o que se ouvia nos campos de batalha não eram minha onomatopéias de tiros, e sim gritos de agonia de pessoas que morriam sem motivos, sem razões. Vi que a ordem que me fascinava era a dominação e o sentimento sedutor era o de não pensar, mais agir. Mudei. Mas aquele prédio me chamou atenção. Então hoje eu resolvi entrar.



O museu que visitei (acabei de voltar, apenas tirei os sapatos e vim escrever), chama-se "casa do expedicionário". Tinha uma bela coleção. O mais interessante é que não se trata de cópias ou réplicas, e sim de artigos reais doados por amigos e pracinhas daquele período.




Nessa "casa", havia uma seção que era em homenagem a um certo sargento chamado max wolff filho. Pelo que pude ler sobre ele, tratava-se de um héroi. Condecorado por bravura em várias ocasiões, inclusive na tomada do monte castelo, o dito sargento morreu numa patrulha sob fogo alemão e, de acordo com relatos de sobreviventes, o pequeno grupo resistiu ao fogo inimigo muito pela coragem do dito sargento. Ao que parece o nome do sargento é usado pelo batalhão de infantaria blindada daqui de curitiba.



A baixo da série de imagens em preto e branco, havia uma foto de uma senhora. Era uma foto colorida, e a senhora sorria com certa formalidade. Abaixo a legenda dizia quer aquela era a única filha do sargento, e que agora residia em curitiba. Expostos naquela sala estavam, além da bandeira que envolveu o corpo do sargento, uma série de outros pertences pessoais do sargento. Eu me perguntei se aquelas lembranças não fariam falta a ela. Mas certamente não. Afinal, ela não era filha do sargento max wolff filho. O nome de seu pai era max. Ela com certeza sentiu falta do sargento. Será que ele quis lutar naquela guerra? Escolheu? Alguém escolheu? Generais, soldados, vítimas, alguém escolheu aquela guerra?



Enquanto eu pensava um grupo de crianças entrou na sala. Aparentemente primos, três meninos, disputavam entre si uma revista e a atenção de três senhores. Impressionavam-se com as medalhas coloridas, os uniformes expostos e brigavam por uma revista. A guerra continua a ser uma brincadeira de crianças. Mas creio que a filha do héroi de curitiba não gostou muito da brincadeira.




Foi triste o nome do museu ser "casa so expedicionário" de alguma forma alguns ali não tiveram casa a retornar. Não sei se pelo frio, ou o silêncio depois das crianças orem embora, até mesmo os vultos de uniformes de homens que lutaram (estam vivos ainda os que usavam essas roupas? Morreram no conflito? Depois?). A cena da despedida foi melancólica.
A casa estava vazia, havia apenas fantasmas em vidros.





2 comentários:

Lady Sarajevo disse...

"Vi que a ordem que me fascinava era a dominação e o sentimento sedutor era o de não pensar, mais agir. Mudei."

aí tu resolveste estudar "direito"
...

os teus questionamentos internos ou externos, sei lá, ficaram muito bem nesse texto!!

*síndromes de curitiba*
:)

Interferência disse...

Hahaha, concordo com a Thereza, mas isso me lembrou Espcex, a prova escrota do Titular, "Nove da manhã e já bebendo, general?", huahuaha

"Vi que a ordem que me fascinava era a dominação e o sentimento sedutor era o de não pensar, ma[i]s agir."

"Já ouvi falar desse tal de César..."

e ele tava pensando, huahauhau


Como disse o Anderson em sua sabedoria malandro-zen " pra onde tu vai,tu só trabalha. Às vezes vem um navio novo e bacana e às vezes vem navio de guerra que estrangeiro já deu baixa há 30 anos"