sábado, 5 de janeiro de 2008

da síndrome de "álvaro de campos"


De todos os poemas e leituras, as que mais me gravam na mente são as de álvaro de campos. Dentre todos os heterônimos de fernando pessoa, creio ser este com o que mais me identifico. Tem um poema específico, "saudação a walt whitman", que me impressionou bastante quando li. Àquele tempo eu estava lendo as primeiras linhas de fernando pessoa (que conheci mais profundamente pelas mãos da professora sandra helena), e tinha essa sensação inquietante dentro de mim. Era como se eu lesse aquilo que queria colocar em palavras, mas nunca haveria de conseguir com a mesma maestria, a pimeira vez que li "magnificat" foi como se tivesse levado um soco ao estômago! Os meus pensamentos eram ali retratados! Quer como criança, como jovem ou como homem, eu via a mim mesmo refletido naquele poema. E enquanto procurava uma forma de entender o que era aquilo, meus olhos bateram em "saudação".

"(...) Não sou indigno de ti, bem o sabes, Walt, Não sou indigno de ti, basta saudar-te para o não ser... Eu tão contíguo à inércia, tão facilmente cheio de tédio, Sou dos teus, tu bem sabes, e compreendo-te e amo-te, E embora te não conhecesse, nascido pelo ano em que morrias, Sei que me amaste também, que me conheceste, e estou contente. Sei que me conheceste, que me contemplaste e me explicaste, Sei que é isso que eu sou, quer em Brooklyn Ferry dez anos antes de eu nascer, (...)"

Como era possível?! Ali diante de mim, retratados com anos de antecedência, com uma imortalidade precisa, exatamente as palavras que eu buscava! E ele as dirigia a alguém mais! E não quaisquer palavras, mas palavras de uma exatidão maquinal, orgância, lógica, quase sobrenatural! Mas então fui conhecendo mais. E me apaixonei pela forma como fernando pessoa escreve, me apaixonei com o que ele fez com a lingua portuguesa. E de todas as paixões, a maior delas foi a maquinal e técnica paixão pelo que escrevia álvaro de campos!

Desde a forma, até o próprio cerne daquela poesia era viva! É viva! É uma poesia feita de certezas concretas de um mundo que é exato preciso, mas sem deixar de sonhar e de buscar o inexplicável! Álvaro de campos busca esse sonho. Não o impossível e irrealizável, mas o plausível, o concreto, o próximo! Não tratar os sonhos como impossíveis, e sim como possibilidades. Essa foi a maior lição que recebi de álvaro de campos. Todos nós já sabemos dela quando nascemos, assim como os animais sabem como proceder. Nós sabemos dessa certeza, mas esquecemos com o tempo. Álvaro de campos me ajudou a não esquecer! Como uma máquina como um sonho concreto, com as poesias das engrenagens e do frenético e admirável tecnológico, assim ele fazia poesia. Aquilo é magia! Pura, selvagem, irrestrita, caótica e organizada. Isso é magia...

Demorei a acreditar que ele não havia existido de fato, e que na realidade era apenas o sonho de um poeta. Pra mim era inconcebível que não fosse verdade. Demorei a acreditar.

Graças a Deus não durou muito essa minha crença. Então usando minhas palavras escrevo a segunda lição que aprendi de álvaro de campos: "o perigo não é você morrer nos sonhos. O perigo são os sonhos morrerem em você." Muito obrigado álvaro de campos. Humildemente venço mais esse medo (o de ousar): te saudar! "EVOHÉ!"

4 comentários:

Lady Sarajevo disse...

Sem comentários pra Fernando Pessoa... e pra tudo que sai dele...

É mágico! Cada um deles...

E vamos aí, vencendo medos hein?
SINDRÔMICO!!!

:*

thiago hakai-so disse...

Sempre é mágico!

À vitória sobre os medos! Sobre cada um deles! rs

Interferência disse...

Na boa, reconheço o valor de Fernando Pessoa, mas esse teu texto me lembrou mais RPG! rs

Mas tá muito bom!

Anônimo disse...

Concordo com a Thereza :)
sem comentários pra Fernando Pessoa
e eu sou completamente fixada em Álvaro de Campos...


que bom que tu estás aqui, mesmo cheio de síndromes, é bom! rs