domingo, 13 de janeiro de 2008

da síndrome do "medo"


Quarto escuro. Tudo silencioso. Sozinha no quarto uma pessoa sentada na cama. Acaba de acordar. Tateando pelo escuro e esperando seus olhos se acostumarem com o ambiente caminha em direção do que seja o banheiro talvez. A porta se abre, a luz é acesa, e através daquele retângulo a luminosidade branca alcança uma parcela do quarto. Um olhar furtivo pra trás, um leve tremor. A luz por vezes faz as trevas se tornarem mais assutadoras. Um passo adiante e esses pensamentos não mais preenchem a mente. Diante do espelho o reflexo cansado e mal dormido de um rosto feminino, um sorriso cheio de significados depois ela se abaixa, lava o rosto e quando se encara no espelho, seu reflexo não está mais só. Uma desconhecida atrás dela sorri. A visão se foca no rosto contorcido de terror da jovem ao encarar a estranha! Ela se volta pra trás e BAM!

Esse é o tipo de terror do filme 1408 (mikael hafström), baseado no conto homônima de stephen king. Tem um grande elenco, os mais conhecidos são samuel l jackson e john cusack. É de um terror simples, lógico, quase claro. A história é sobre um escritor descrente e sofrido chamado mike enslin (cusack), que passa uma noite no quarto 1408 do hotel dolphin, onde vários acontecimentos suspeitos e até mesmo bizarros foram presenciados. Como o próprio personagem de cusack diz "quartos de hotel em si são assustadores. Quantas pessoas dormiram aqui, morreram aqui, enlouqueceram aqui".

Gosto de um bom suspense e muito de um bom horror. Mas na minha opnião um bom horror é feito com luz. O que descrevi é verdade. A luz faz as trevas serem mais assutadoras. Já assiti "o iluminado", tanto na versão de stephen king, quanto na mais antiga e melhor de stanley kubric. O grande diferencial são as dúvidas, são os pontos de luz que kubrick lança sobre a história que ao mesmo tempo faz você perguntar se aquilo é real ou não.

A fixação do medo. Sim, temos uma fixação no medo que não se contrói com base não naquilo que não vimos, mas naquilo que não se permite ver. Tomemos um exemplo semelhante pra que vocês entendam meu ponto de vista sobre o medo. Silent hill 4 - the room. Um individuo preso em seu quarto descobre que a única forma de tentar escapar é através de um buraco misterioso que o leva pra um mundo bizarro e surreal, onde tudo o que acontece parece estar conectado. O medo não advém das criaturas estranhas, pelo menos não o medo que satisfaz, esse medo vem da impossibilidade. Vem daquilo que você não é permitido ver: os motivos daquilo tudo.

Esse jogo de luz e sombra poderia ser mais explorado no filme, e poderia ser mais discreto. Afinal o medo é só a vertigem, o impossível nos chamando e sussurrando no nosso ouvido as palavras de hamlet para horácio "mais coisas que supões...", o medo é o tremor sobre o que a luz e a razão não nos deixa ver. Esse é o medo que buscamos sempre. Esse é o medo que alimenta (porque todos nós temos muita fome).

A cena de medo mais emblemática. Ele não vem da lápide que vemos, ou do corpo sob ela. Ele vem do que há depois da lápide e do corpo, e isso não nos é permitido ver.

Um comentário:

Interferência disse...

A melhor parte é quando ele ainda tá duvidando do quarto, antes do cronômetro começar a correr.

E na hora que ele se olha no espelho depois de falar que quartos de hotéis são sombrios por natureza, pensei que ele fosse falar algo do tipo "Here's Johnny!". Mas acho que o Stephen King não gosta dessas brincadeiras...