ANHÃ, s.c. Ã-nhã, a alma errante, o espírito que anda vagando; o gênio andejo, o diabo. Alt. Inhan, Inhang. Aignan, segundo J. de Léry.
ANHANGÁ, s. o diabo, o mau espírito.
ANHANGABA, s. a ação do diabo, a diabrura, o malefício. Alt. Anhangá.
SAMPAIO, teodoro. O tupi na geografia nacional. 3.ed. [S.l.]: Escola de aprendizes artífices, 1928, 352 p.
Como visto, a figura do anhangá tem uma conotação negativa, não importa o nome por quê se chame (ingage - hans staden, aygnhan - jean de léry, mbaaíba - gonçalvez dias). Em todos eles, o estudo etimológico mostra as idéias associadas: vingança, retribuição, terror.
Em algumas obras o anhangá era confundido com jurupari, e ambos se tornavam um só, assumindo os aspectos da vingança e do pesadelo.
Era representado mais comumente por um veado todo branco, entretanto havia vários tipos de anhangá (aqui uso essa escrita mas há outras), um para cada tipo de animal que vingava e protegia. Confirmando essa tese há um relato no livro "geografia dos mitos brasileiros" que fala sobre os tipos de espírito/totem de vingança.
Diz-se que o anhangá também era o responsável pela guia das almas dos mortos (possivelmente o mito da ave chamada de "rasga-mortalha" tenha surgido de um dos totens e/ou aparições do anhangá).
Entretanto a cultura indígena mostra que no primórdio o anhangá não é maligno. Ele é retribuidor, ou seja, ele é perigoso pra quem é perigoso. Uma das formas de atrair o anhangá era, por exemplo, caçar fêmeas grávidas.
A lição é simples, não trate a existência como se ela fosse sua serva, converse com ela, aprenda com ela.
Na grécia havia três senhoras, as *r*n**s (diziam que falar seu nome era convocá-las), elas eram também chamadas de eumênides (as de bom temperamento). Talvez o nome mais conhecido delas seja: "as fúrias". A idéia era a mesma, elas deveriam ser apenas "más" com quem era "mau". Mas no final, como o anhangá, se tornaram malignas para todos os seres.
A bíblia diz que Deus prometeu poupar uma cidade inteira se ele encontrasse lá ao menos cinco justos. Ele encontrou só um. Acho que o anhangá pensa a mesma coisa, não precisa se preocupar, ele pode exercer seu trabalho de totem/espírito da vingança tranqüilo, as chances de ele errar são desprezíveis.
Sim, os indígenas tem uma figura que fala de perdão (no cristianismo todas as facetas são aglutinadas em Deus, o bom e o justo). Eles sussurravam: "juáca-tupãna!" (Deus do céu!)
Não, nem sempre funcionava.
"Ando com a lanterna ao meio-dia a procurar um justo" - diógenes (412 a.C. - 323 a.C.)